Conhecimentos do cotidiano dos povos são evidenciados no Congresso Brasileiro de Etnomatemática
Mesa de abertura do 7º Congresso Brasileiro de Etnomatemática
Durante quatro dias, os conhecimentos da vivência comum da sociedade e de povos tradicionais estiveram aliados aos conceitos matemáticos em uma diferente perspectiva da disciplina. No 7º Congresso Brasileiro de Etnomatemática, de 17 a 20 de setembro, em Macapá-AP, mais de 400 participantes debateram e resignificaram a matemática por um viés próximo das atividades do cotidiano social, seja em uma cidade amapaense, seja numa comunidade pesqueira de Portugal. O Instituto Federal do Amapá (Ifap) foi um dos organizadores e a instituição sede do evento científico.
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A mesa de abertura foi presidida pelo reitor do Ifap, Romaro Silva, e composta pela reitora da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), Herdjania Veras de Lima, pelo presidente da Comissão Científica, José Roberto Linhares de Mattos, a pró-reitora de Planejamento da Universidade Federal do Amapá, Simone Leal, o secretário municipal de Educação de Macapá, Madson Muller, a representante da Sociedade Brasileira de Educação Matemática, Sandra Mattos, a coordenadora da Rede Internacional de Etnomatemática, Oleneva Sousa, a coordenadora do Programa Oiapoque do Instituto de Pesquisa de Formação Indígena, Rita Lewkowicz, a representante dos povos indígenas do Amapá, Luene Karipuna, o diretor do Campus Macapá, Marcus Buraslan, e o representante da Universidade do Estado do Amapá (Ueap), Vítor Nery.
Na primeira mesa-redonda do evento, “Mestres dos saberes: as práticas ancestrais nas comunidades”, estavam presentes a mestra das louças de barro Marciana Nonata, moradora da comunidade de Santa Luzia do Maruanum, e Kupenã Waiãpi, liderança da aldeia Ytawa, agente socioambiental certificado pelo Instituto Federal do Amapá (Ifap), com mediação da professora Célia Souza da Costa.
Na conferência de abertura, a pesquisadora portuguesa Mônica Mesquita relatou sua experiência com crianças em situação de rua, na cidade de São Paulo-SP, que resultou em sua tese de Doutorado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “Repolitizei o meu próprio conceito de matemática ao desenvolver a pesquisa com as crianças”, contou a pesquisadora, que investigou sob o viés da etnomatemática o mapeamento do assalto aos motoristas de carro e a atividade de fabricação do pão. Também falou da pesquisa com famílias de pescadores em uma cidade litorânea de Portugal, onde a luta diária incluía a garantia do fornecimento de água.
A mesa-redonda “Etnomatemática em comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas” teve a participação dos professores Claudionor de Oliveira Pastana e Elivaldo Serrão Custódio, da Universidade do Estado do Amapá (Ueap), e Rhuan Guilherme Tardo Ribeiro, da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), que deram um panorama geral de como os diferentes grupos sociais são fontes de pesquisa na área, contribuindo com seus conhecimentos passados de geração em geração.
O livro “Etnomatemática da Amazônia Amapaense”, organizado por Elivaldo Custódio, foi lançado no evento. “A obra mergulha nas profundezas da Amazônia e explora a interconexão entre Educação Matemática e Cultura local, especialmente no contexto do estado do Amapá. O livro oferece uma jornada fascinante através das tradições matemáticas de comunidades tradicionais, ribeirinhas, indígenas e quilombolas, destacando como os conhecimentos matemáticos são entrelaçados com a vida cotidiana, a sabedoria ancestral e a preservação do meio ambiente”, diz o prefácio.
Marcadores do tempo
Os indígenas Ronaldo Anicá e Sidelvan Monteiro apresentaram os resultados da pesquisa sobre “marcadores do tempo”, realizada por demais habitantes das terras indígenas do Oiapoque, no âmbito da Formação em Transformações Ambientais e Mudanças Climáticas, organizada pelo Iepé – Instituto de Pesquisa e Formação Indígena, em parceria com o Ifap, entre os anos de 2019 e 2022. O trabalho, que resultou no “Livro dos Marcadores do Tempo“, envolveu 40 pesquisadores e pesquisadoras pertencentes aos quatro povos que vivem na região: Karipuna, Galibi Marworno, Galibi Kali’nã e Palikur.
Dando o exemplo das formigas que mudam de cor conforme a estação climática do norte do Amapá, ou seja, chuvosa ou seca, Sidelvan mostrou diversos resultados da pesquisa ao público presente no Cbem. No total, 100 marcadores ambientais que sinalizam tanto efeitos temporais curtos (transformações que podem acontecer no intervalo de horas, no decorrer de dias ou semanas), quanto as mudanças sazonais que possuem uma temporalidade mais longa estão identificados no livro.
"Interrogações"
O Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) no Brasil também esteve na pauta do Cbem, evidenciado na conferência de encerramento, com a pesquisadora Gelsa Knijnik, professora aposentada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Com o tema “Etnomatemática, Reconhecimento e Redistribuição”, a palestrante abordou desde perspectiva da arte até a investigação que desenvolveu junto ao MST.
“Como professora, fui aprendendo, pouco a pouco, a lidar com a complexidade da situação. A começar pela variedade de jogos de linguagem matemáticos que os camponeses-estudantes traziam para as aulas, com resultados muito diferentes. Não se tratava de cálculos estritamente numéricos. Eu me perguntava o que estava centralmente envolvido em cada jogos de linguagem. O que era desprezado ali”, relatou Knijni, para, ao final, compartilhar com os presentes o permanente interesse por pensar as coisas da etnomatemática, “um interesse que não tem decaído, sou alguém que tem a cabeça cheia de pontos de interrogação”.
O presidente da Comissão Científica, José Roberto Linhares de Mattos, destacou que o 7º Cbem ficou em primeiro lugar em número de trabalhos submetidos – com 155, sendo 153 aprovados, dos quais 22 pôsteres e 131 comunicações científicas. Esses trabalhos foram expostos ao longo do congresso, nas instalações do Campus Macapá, atraindo o interesse, não só dos participantes, mas também de estudantes e servidores do Ifap.
Por Suely Leitão, jornalista da Reitoria
Diretoria de Comunicação – Dicom
Instituto Federal do Amapá (Ifap)
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